Sem informação não existe inclusão

Sem informação não existe inclusão!

Ainda hoje no Brasil muita gente, inclusive da área da Saúde e da Educação, não possui informação adequada sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Como conseqüência, o quadro que se apresenta ainda hoje é o diagnóstico tardio e tratamento negligenciado.

Muitos reflexos negativos na vida de crianças, adolescentes e adultos em decorrência dos sintomas do TDAH e de suas comorbidades são recorrentes. Dependência química, transtorno de conduta, compulsões, frustrações variadas na área acadêmica e na área profissional, transtorno opositor, dificuldade no relacionamento interpessoal, dentre tantos outros podem ser consequência disto. Uma preocupação social e governamental em direção a minimizar o desgaste e as perdas causadas pelos sintomas deste transtorno se faz necessária.

É claro que existem necessidades básicas como alimentação, moradia, saneamento básico,… que são de extrema urgência em nosso País, e porém, os comentários a este respeito ficam por conta de especialistas das áreas competentes, já que assunto a abordado aqui é outro. E isto porém, não diminui a importância e a urgência do tema aqui em discussão.

Aconteceu em 25 de outubro deste ano (2007) uma Audiência Pública sobre TDAH na Câmara dos Deputados em Brasília, para discutir o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e suas conseqüências na vida escolar e social do aluno. Conseqüências lastimáveis, que na maioria das vezes não se tem registro ou não se deposita a responsabilidade do ocorrido a este Transtorno, na maioria das vezes por pura falta de informação.

Aprovar uma lei não é nada simples, demanda outras iniciativas, mas um passo já foi dado. É preciso ser otimista e pensar que se esta Audiência servir pelo menos para aumentar o nível de informação da sociedade e de órgãos responsáveis pela formação do indivíduo sobre o assunto, já terá valido à pena.

Com o panorama atual, disponibilizar informação especializada sobre o assunto poderá viabilizar as mudanças necessárias em um breve futuro e até a incrementar a luta das pessoas envolvidas e prejudicadas, por seus direitos e quem sabe a inclusão ( no sentido pleno da palavra) de portadores de TDAH em programas acadêmicos e de saúde que possibilite o diagnóstico e o tratamento, e inclusão biopsicossocial, onde os portadores não sejam mais rotulados, rejeitados e excluídos.

O objetivo de um programa de Governo neste caso não deve ser o de privilegiar os portadores com favorecimentos, com notas que não tiraram em seus exames escolares ou com possíveis aprovações, mas sim que a via de acesso ao aprendizado e inclusão social seja facilitada e reforçada, e os educadores e agentes de saúde sejam amplamente capacitados para lidar com esta situação, para que se necessário saibam fazer o encaminhamento do aluno ao profissional adequado ou quiçá alertar aos responsáveis pelo aluno para tal necessidade. Oferecendo suporte para o acesso ao diagnóstico prematuro e ao tratamento adequado.

Como decorrência deste Transtorno muitas pessoas não se estimulam a estudar ou abandonam seus estudos prematuramente, por  não se sentirem capazes de acompanhar o material didático, com auto-estima abalada. Na maioria das vezes nem sabem o porque, apenas se sentem incapazes, não sabem que são portadores do TDAH e possivelmente nunca ouviram falar no assunto, e assim acabam incorporando como verdade os rótulos de preguiçosos, desastrados, voadores, descompromissados, vadios, que lhes são atribuidos ao longo de suas vidas, confirmando esta crença negativa e limitando seu crescimento.

Passar adiante um pouco de informação sobre o assunto é justamente o objetivo deste artigo.

Com o diagnóstico precoce e ajuda especializada muita dúvida pode ser esclarecida e quem sabe, muito sofrimento minimizado ou evitado, desconstruindo essa situação de exclusão, rejeição e até marginalização e viabilizando maior autonomia, segurança, dedicação e competência.

O percentual de portadores diagnosticados no Brasil talvez não registre a realidade, pois só busca avaliação e tratamento quem tem um mínimo de informação, quem é encaminhado pela escola, pelos pais, quem sente um sofrimento cotidiano. Desta forma o percentual de não diagnosticados talvez seja maior do que os que podemos contar.

Os dados das últimas pesquisas confirmam um impacto econômico, tanto público como privado, muito elevado como resultado de tratamentos para o TDAH e suas comorbidades (mesmo que não diagnosticados) e dos danos causados por desvio de conduta, dependência química, problemas com furtos, acidentes e doenças psicossomáticas decorrentes deste transtorno. O investimento público financeiro com o tratamento preventivo seria muito menor do que os hoje gastos com suas consequências.

Pessoas que vivem em condições precárias não podem se dar ao “luxo” de fazer a opção pela medicação e um tratamento psicoterápico adequados se não possuem nem subsídios para suprir necessidades básicas de sobrevivência. E mesmo quem possui recursos, muitas vezes precisa abrir mão de muitas outras escolhas como opção de lazer ou especialização profissional para fazer uso de medicamentos, terapia, professores particulares, tudo isto com a intenção de minimizar as sequelas do Transtorno, ou seja, uma estrutura acaba sendo criada em torno da pessoa com TDAH e esta passa a ser o foco da situação familiar, o problema, o “bode-espiatório”, o que o atribui ainda mais um rótulo, dentre outros vários que possivelmente receberá ao longo de sua existência.

E, a informação científica talvez seja o melhor instrumento para transformar este panorama desolador que se tem hoje sobre o assunto. Nos EUA, existe uma legislação especifica para que portadores de disfunções cognitivas de uma maneira geral, e os portadores de TDAH sejam beneficiados por ela, ainda assim os associados e os representantes do CHADD (Chidren and Adults with Attention Deficit Disorder), acreditam que mais ações possam ser implementadas e legalizadas para melhorar ainda mais a qualidade de vida dos portadores de TDAH, e isto foi discutido no último Congresso em novembro de 2007 em Washington.

Lamentavelmente, em algumas escolas ainda hoje acontece de alguns alunos serem convidados a se retirarem, a não terem sua matrícula renovada, a serem negligenciados, em decorrência de sua postura como aluno, decorrente de seus sintomas recorrentes do TDAH.

A situação é que em muitos casos a própria escola também não sabe como lidar com esta situação.

Sem informação não existe inclusão, nem para os portadores nem para quem por ignorância os rejeita.

Em caso de reprodução favor mencionar autor e fonte.

Nazareth Ribeiro
Psicoterapeuta Psicossomaticista Especialista em Clínica e Educação.
Coaching Vocacional e Orientação Profissional.
Coaching TDAH.
Palestrante.

Professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas)
Doutora pela ESC Rennes ( França)

4 comentários

  1. Kouba em 24 de agosto de 2009 às 11:14

    In truth, immediately i didn’t understand the essence. But after re-reading all at once became clear.



  2. Cornelius em 22 de agosto de 2009 às 21:02

    I really like your blog and i respect your work. I’ll be a frequent visitor.



  3. glaucia fernandes abreu em 18 de agosto de 2009 às 10:04

    Olá, é muito bom saber que não sou a unica a reconhescer este problema, mesmo que tardiamente, meu filho de 16anos é portador e ainda dependente quimico, está acautelado em uma cadeia e não é tratado como deveria, tenho estado de um lado a outro a proucura de um lugar adequado p o tratamento dele, que devera ser involuntário, essa luta tem sido solitária e angustiante, hoje vou ão forum na experança de consequir que o estado arque com sua responsabilidade e custeie o tratamento, já que não disponho de recursos suficientes. Fiquei admirada e satisfeita com este artigo e com o conhescimento que despoem, quem sabe não poderião me dar um maior esclarescimento, a respeito de uma clinica realmente capacitada, para este tipo de tratamento, já que se trata de dois problemas, mesmo que um tenha provavelmente sido causado pelo outro. Meus agradescimentos, Glaucia f abreu



    • admin em 22 de agosto de 2009 às 20:25

      Glaucia, existem algumas comunidades do Orkut que dispõe de advogados que podem responder esta sua questão, acredito que vc poderia solicitar junto ao Concelho Tutelar, visto que ele ainda é menor, uma Avaliação Neuropsicológica e caso fique comprovado o Diagnóstico um tratamento público adequado.
      Espero de coração ter ajudado e volte para me dar notícias,
      Um abraço,
      Nazareth Ribeiro